segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Sem Titulo


Começa como se de uma brisa se tratasse, um zumbido, depois toma-nos. Lentamente, mansinho, do centro de nós, come-nos as entranhas, devagarinho, saboreia. A dor é corrosiva, distinta da dor do sangue. Uma mão que amassa, estrafega o coração, já se sente a chegar à garganta, aperta-nos o pescoço por debaixo da pele, dificilmente respiramos, mesmo, sem nunca deixar o estômago.
Às vezes somos levados ao limite, às vezes temos sorte, e num repente somos libertados, caímos estatelados no chão, o corpo lateja com uma réstia de vida, ofegamos na urgência.
Depois é o silêncio, os olhos retorcem-se à procura de nada.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

narrativa alterada

1 - É daqueles dias em que não se consegue meter um pé à frente do outro.
2 - A cabeça parece que vai estoirar, mas em vez disso permanece atarraxada ao corpo o que a torna insuportável.
3 - Ao contrário do que é costumo, absorvi uma dessas substâncias medicinais comprimidas
4 - Adormeci.
5 - Enquanto meto o cadáver em sacos de lixo consecutivos, berro: “Não podes continuar a comprar estes filmes baratos! É que depois eles morrem, e somos nós que temos que dar conta disto.”
6 - O som do filme permanecia alto, e eu procurava no corpo já em decomposição, onde se distinguia uma camisa de xadrez vermelho, um botão para baixar o volume.
7 - Um dos sacos tinha letras de uma qualquer entidade que nos denunciaria, e continuo a apregoar: “Mais vale dar mais dinheiro mas comprar filmes bons em que não somos despojados com as baixas.
8 - Respinga: “Sim, sim, ‘tá bem, mas trás lá os sacos de entulho!”
9 – Camisa aquela igual à do homem que nos tinha arranjado o gás no dia anterior.

11 – Na garagem surgiu um baú, que me importuna incansavelmente.