segunda-feira, 23 de julho de 2007

Rua Álvaro de Campos

O Verão permanece solidário com as minhas decisões, e se eu não tiver férias nesta estação, ele teima em esconder o seu astro luminoso. Hoje é novamente dia de festa, mais um sonho alcançado, e se a vida continuar a brindar-me desta forma, eu declaro que por cada sonho realizado nascerão em mim mais cinco. A alegria já não produz o mesmo efeito, é sentida de forma mais apurada e menos esfuziante, tem uma consistência que o meu coração ainda não se habituou. E como tudo se conjuga quando estamos em harmonia com o Universo (ou quando fazemos por isso), até nas pequenas coisas o Todo trabalha, e assim a minha rua chama-se: Rua Álvaro de Campos.

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Álvaro Campos

Sim, está tudo certo.
Está tudo perfeitamente certo.
O pior é que está tudo errado.
Bem sei que esta casa é pintada de cinzento
Bem sei qual é o número desta casa -
Não sei, mas poderei saber, como está avaliada
Nessas oficinas de impostos que existem para isto -
Bem sei, bem sei...
Mas o pior é que há almas lá dentro
E a Tesouraria de Finanças não conseguiu livrar
A vizinha do lado de lhe morrer o filho.
A Repartição de não sei quê não pôde evitar
Que o marido da vizinha do andar mais acima lhe fugisse com a cunhada...
Mas, está claro, está tudo certo...
E, excepto estar errado, é assim mesmo: está certo...
Álvaro Campos

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
Álvaro Campos

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Find The Don

Depois de uns dias de obscura neura nada cai melhor de que um convite para viajar. Há quase um ano que não o fazia, e isso é muito tempo, tendo em conta que para mim, viajar é uma necessidade de purificação, que deve ser ministrada regularmente.
Viajar é um activador de 3 dos meus 5 sentidos, do olfacto, paladar e a visão. Viajar serve de balancete do meu eu. O olfacto faz-me disparar a memória, o Passado é puxado ao momento. O paladar é o tempo Presente, que se dissipa na degustação. A visão o Futuro, porque quando se gosta de viajar quer-se sempre ver mais.
Viajar em conjunto é uma experiência delicada, é como viver com alguém, a conexão dá-se ou não. E se não, não há nada a fazer.

domingo, 8 de julho de 2007

Todo o amor que nos prendera Como se fora de cera Se quebrava e desfazia Ai funesta Primavera Quem me dera, quem nos dera Ter morrido nesse dia

Tenho a minha casa empacotada à espera de um futuro que não chega: Do que sinto mais falta é do livro que queria ler, e sobretudo do canto da Mariza. Até que tenha os meus CD’d de volta, este blog só vai ter Mariza a cantar.
Encontrei por casa dos meus pais, um livro sobre a minha venerada Elizabeth I de Inglaterra. Uma escrita sem nada a assinalar, mas que me deu a conhecer a primeira adolescência da princesa, na sua fuga das garras de Thomas Seymour, marido da sua madrasta.
Ontem íamos ver Xutos ao Colete Encarnado, mas a Mariza actuava hoje, com o Carlos do Carmo em Mafra, e não queríamos perder. Adiámos os Xutos, e rumamos à Fnac.
Fila P, são 15 filas de gente até ao palco, apesar de já ter sido arrebatada por Carlos do Carmo a cantar no Coliseu sem microfone, achei que estes senhores mereciam ser visto de forma mais nobre.
Isto não nos correu bem, ainda por cima a Elizabeth chegou ao fim. Aceitei a sugestão da prima Ana, e já que estávamos na Fnac, procurei “A Formula de Deus”, de que ela tanto tem falado.
Acredito piamente em Deus, mas não necessariamente que se tenha que expressar de forma material, não um Deus que questionamos no infortúnio, mas num Deus que está presente em cada um de nós e que se manifesta de forma constante, às vezes naquilo que consideramos banal.
Devo dizer que não engraço com o rapaz, mas talvez tenha a ver com uma aversão que criei ao jornalismo de hoje. Mas vamos lá ver o que nos conta sobre Deus.
E como é possível negar a presença de Deus quando se presencia um momento como este: http://www.youtube.com/watch?v=TeOhPR_0x8E

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Ciclo da Água

Tenho este problema de quem não consegue ver televisão durante muito tempo, ao contrário do meu consorte que tem um caso tórrido com o comando, o que também faz de nós um casal complementar.
Como aspecto negativo, nunca vejo um programa bom desde princípio. Acabei de ver “metade” (metade, como de costume) de uma entrevista na televisão com o Dr. Brian Weiss.
Fiquei encantada com a metáfora que nos deu. Segundo ele, somos como cubos de gelo, ou seja água em estado sólido, o que delimita o espaço de cada um.
Quando morremos transforma-nos em água, estado líquido que segundo o dicionário: “estado da matéria, intermédio entre o gasoso e o sólido, no qual as partículas constituintes se movem com facilidade e que, por isso, se caracteriza por ter volume próprio, mas não forma própria;”. Não tendo forma própria, os ex-cubos de gelos misturam-se, são todos um e o mesmo.
E depois, evaporarmo-nos, existimos sem ser vistos, com a possibilidade de nos voltar a transformar em cubos de gelo.
Li dois livros dele: “Muitas Vidas, Muitos Mestres”, “Só o Amor é Real”, e estou de acordo com as suas ideias, sobretudo que só o amor é real. Mas esta ideia da reencarnação é genial, e convenhamos muito engraçada.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Eleva el pensamiento, al cielo sube, por nada te acongojes

Afinal o filme já estreou, numa única sala de cinema e a uma única hora. Hoje voei até lá. Éramos meia dúzia na sala. O que por um lado me deixa muito satisfeita, porque não me importava de ser a única, por outro lado tenho pena.
Depois de ter lido “Teresa a Santa Apaixonada” de Rosa Strausz, seria difícil o filme subjugar a esplêndida narração da vida extraordinária de Teresa. Mas está igualmente à altura, e é filmado cá, no Convento de Cristo, em Tomar
A igreja, em mais uma das suas piores facetas, a fé no seu melhor. Ou, devemos dizer a loucura? A fé, com certeza, e num dos seus apogeus.
Mas, de qualquer forma não será esta, mais uma das fronteiras ténues. Porque afinal, quando uma convicção (e falo aqui, daquelas inabaláveis), vai contra a verdade comum, não somos facilmente classificados de demente, de excessivos? Mas quem sofre de tal mal, ou iluminação, não se detêm facilmente. E de qualquer forma, valerá a pena passar por esta vida em bicos dos pés, em vez de cravar os pés no chão, sentir o calor e o frio de cada caminhada, e por vezes o alívio de tirar uma farpa da planta do pé?


Nada te turbe,nada te espante;
todo se pasa, Dios no se muda;
la paciencia todo lo alcanza.
Quien a Dios tiene, nada le falta.
Sólo Dios basta.


Um pouco mais: http://www.ecclesia.pt/santos/outubro/15.htm